domingo, 23 de fevereiro de 2014

TEHILIM, musica celta!



É um clichê muito conhecido dizer que fazer musica no Brasil é uma luta sem fim. É por isso que quando surgem certas bandas (ou quando as descobrimos) é aquela sensação de satisfação sonora. Falei com o César Ricky da banda de musica celta TEHILIM, e fiquei surpreso com a proposta, a postura, enfim, com o que essa banda representa.

Por que musica celta?
Eu sempre gostei de músicas étnicas, sempre tive uma certa aproximação maior com o gênero “world music”. Conhecer a musicalidade de um outro país é muito interessante. Minha esposa, Jackie, tocou flauta transversal durante muitos anos numa orquestra. Ela também sempre teve interesse por músicas de outras etnias. A música celta nos chamou atenção pela beleza de suas melodias, que soam simples mas são complexas, pelo ritmo festivo e também reflexivo. Sem falar que ela permite uma fusão muito fácil com o rock, o country e o folk.

Sofreram algum tipo de preconceito por serem cristãos?
Já teve gente muito mal informada que chegou a dizer que não tem nada a ver música celta com cristianismo, que música celta é pagã. Mas isso é ignorância, pois a própria cruz celta é uma prova da influência cristã sobre esse povo. Como dou palestra sobre esse tipo de assunto, sempre consigo esclarecer este tema sem que sobre preconceito no final. As pessoas precisam entender que uma coisa é a história da influência cristã entre os celtas, outra é a religião. Acho que no fundo, as pessoas têm medo de que seja uma espécie de música “gospel celta”, e na verdade não somos nada disso. Somos cristãos que fazem música para todos. Sofremos preconceito muito maior de cristãos do que não cristãos. São poucos os cristãos que conseguem encarar arte como arte, entender a diferença de cultura e não achar que aquilo que não fala somente de Deus é algo que também pode ser inspirado por Deus ou bonito de ser apreciado.
Fazemos música para quem gosta de música. Sejam cristãos, espíritas, muçulmanos, etc.

As suas composições falam sobre o que?
Falo muito sobre mim, sobre as coisas que vivo. Falo sobre Deus, pois para mim ele faz parte do que eu vivo. Falo sobre coisas simples, sem complexidade ou histórias de dragões, cavaleiros, castelos.
Acho que escrever uma letra não é tão fácil. E como não sou um bom ficcionista para criar histórias mirabolantes, prefiro falar sobre o comum, que é a minha vida.

O que vocês querem comunicar?
Um pouco de esperança para as pessoas. Acredito que ninguém tem a necessidade de ficar ouvindo uma espécie de música que te deixe pior do que o mundo, o dia-a-dia com suas injustiças e violências já fazem com que as pessoas se sintam. Música, no meu ponto de vista, precisa ser esperançosa, animadora, reflexiva para o bem. Música precisa nos dar sentido de que absolutamente tudo nessa vida vale a pena.

Depois de 8 anos de banda, o que ainda os motiva a continuar na estrada?
Essa é uma pergunta curiosa, porque num país como o Brasil não são muitas coisas que nos incentivam a continuar uma carreira. Acredito até que esse seja o enorme motivo de tantas bandas começarem e acabarem com os mesmos músicos, que apenas trocam a formação e recomeçam uma nova banda.
Temos plena convicção de nossa pequenez, sabemos que nosso público é pequeno e, na maioria das vezes, agregado mais por curiosos do que por apaixonados pelo tipo de música. O que nos motiva a continuar é o fato de que não nos vemos parados. Podemos até pisar no freio, como fizemos nos últimos dois anos, diminuindo a quantidade de datas na agenda, mas não temos vontade de parar. Não dá para ser músico apenas tocando dentro de casa, dando aulas de guitarra ou tocando em rodas de amigos. Músico gosta de se apresentar, de mostrar o que está produzindo. Mesmo que sejam poucas apresentações, mas que sejam apresentações de qualidade. E nós somos exatamente assim.

Falem sobre o recente trabalho “Back to the new”.
O “Back to the New” foi um alívio para nós. Precisávamos dessa mudança de direção, onde fazíamos 70% instrumental e apenas 30% cantado. Descobrimos que embora não sejamos exímios vocalistas, compor músicas com vocal faz com que elas cheguem a muito mais pessoas, tornem-se menos parecidas umas com as outras, e mais divertidas do que as músicas instrumentais.
Isso não significa arrependimento das músicas instrumentais que já compusemos. De maneira alguma, temos muito orgulho delas e ainda as tocamos ao vivo. Mas músico é um “ser” naturalmente inquieto, onde a mudança sempre é necessária. E essa mudança em nossas composições foi muito boa.
A recepção foi ótima, talvez até melhor do que a recepção que tivemos em nosso segundo CD (Grace). Alcançamos mais pessoas comuns, além dos músicos que já alcançávamos, e isso foi muito bom. O “Back to the New” é o nosso CD mais consumido no exterior e é mais consumido lá fora do que no Brasil. Isso só nos anima, mesmo que não signifique muita coisa de concreto, como agendas internacionais e coisas do tipo.
O fato de liberarmos nossos CDs para download gratuito no www.noisetrade.com/tehilimcelticrock, ajuda demais.

Quais são os planos para o futuro?
Temos insistido no formato em duo, onde saímos somente eu e a Jackie. É um formato simples e complexo, ao mesmo tempo. Simples, porque como somos somente nós dois, fica bem mais fácil administrar ensaios e apresentações. Uma banda dá muito trabalho, pois ter que lidar com pessoas nunca é fácil, e nem todo mundo tem o mesmo objetivo que você (que é o criador do trabalho).
Complexo, porque temos que reproduzir em apenas duas pessoas o que gravamos em quatro, para isso temos que fazer adaptações das músicas. No caso, a Jackie fica com os tin whistle e low whistles (flautas celtas) e, também, com os back vocais. Eu fico com os violões (6 e 12 cordas em afinações alternativas); as guitarras, para fazer riffs e solos; gaita, para algumas poucas músicas; mandolin, para arranjos e solos; e vocal. Nessa situação uso um pedal de loop onde disparo as bases de violão quando preciso mudar para a guitarra, mandolin ou gaita. Depois que termino essas partes, volto para o violão. É um malabarismo digno de circo, mas já me adaptei bastante.
Queremos fazer um trabalho novo exclusivo para o formato em duo. Pode ser regravações de nossas músicas, ou que façamos músicas novas. Talvez seja no formato de vídeo. Ainda não decidimos, mas sabemos que vamos fazer. Como estamos estudando as músicas, os instrumentos e como faremos para registrar esse trabalho em duo, não estamos nos impondo pressa para realizar isso. Na hora certa ele sairá e será bem feito.
Gostamos do formato em duo e pretendemos direcionar cada vez mais a carreira para ele. Quem for nos assistir atualmente, nos verá nesse formato, não com a banda completa. A enorme vantagem é que é mais intimista, funciona em lugares menores e fazemos com mais tranquilidade.

Contatos:

Emails:
tehilim.celtic@gmail.com cesar.ricky@tehilim.com.br